segunda-feira, 26 de maio de 2014

Lei da Palmada: Eu concordo!

"Eu apanho no corpo todo, não ligo tanto de apanhar, mas desde que não seja no rosto. Eu nem me importo mais quando ela me bate no resto do corpo, mas se me bate no rosto, eu não falo com ela até o dia seguinte, porque me magoa, fico muito triste!" (dito por uma criança de 7 anos)

"Mentira que sua mãe não te bate! TODA mãe bate! A minha me bate pouco, só quando eu brigo com minha irmãzinha mais nova, daí ela bate" (dito por uma criança de aproximadamente 8 anos, para minha filha, de 10, quando elas conversavam sobre castigos físicos)

"Eu não vou deixar minha filha virar uma qualquer, se ela fizer isso outra vez, eu vou bater mesmo, vou arrebentar!" (dito pela mãe de uma criança de 5 anos)

"Eu não bato pra machucar, mas quando o pai dela pega, coitada, dá até pena! Uma vez ele bateu tanto, tanto, que ela fez até xixi na roupa." (dito pela mãe de uma criança de 5 anos)

Esses relatos são reais, foram ditos para mim ou perto de mim. Não tem falas nem personagens fictícios. Infelizmente.

Que tal usar suas mãos para o que é certo?
Mãos acariciam e abraçam! Palavras educam!
Eu concordo que haja uma lei que ampare a criança em caso de violência, mas
não tem razão que justifique a violência no trato de crianças, pois desde sempre ouvimos dizer que é errado bater em mulheres e animais, então, por que bater em criança seria correto?
Pergunto para quem justifica que bater é educar: Onde fica nosso argumento de que devemos resolver nossos problemas sem violência? Se ao primeiro problema que a criança causa, ela leva um tapa???
Tem gente que justifica que violência é uma coisa, e palmada é outra. Não é diferente! É o mesmo! O que diferencia um tapa de um soco é a força que se aplica para faze-lo.
E essa diferenciação que os defensores da palmada fazem, é tida como normal quando o assunto é criança, mas e quando se trata de adultos? Por que é absurdo um homem dar um tapa, ou vários, em uma mulher? Por que um homem vai preso por dar cintadas em sua esposa? Por que uma pessoa é condenada, e tem sua foto compartilhada em redes sociais como agressora, monstra, e todo tipo de ofensa, quando ela enche um cachorro de cintadas? E por que isso tudo é naturalizado quando se trata de crianças???

                       


A resposta é que a maioria de nós normatizamos a palmada, e mesmo quem não o faz mais, já considerou normal ou até já fez um dia. É o meu caso.
Houve um tempo em que eu achava que só uma boa palmada corrigiria um erro grave de uma criança. Eu criava teorias para aplicar palmada em algumas situações, e imaginei que era bom meus filhos terem um pouco de medo de mim, apesar da amizade que eu pretendia criar com eles. Parece contraditório, afinal, em amigos não se bate (ou não deveria se bater), mas na época não me parecia nada estranho...
Cheguei a dar palmadas, e me sentia um monstro depois. Eu odeio ser humilhada, e ver uma criança humilhada em um canto, chorando, indefesa, era triste pra mim. Minha auto-defesa era achar que estava fazendo o melhor pra eles, mesmo me sentindo péssima. E mesmo evitando até o último, dando a palmada somente quando fosse uma situação extrema, eu fazia, e achava certo.

Se tenho uma alternativa não dolorosa/humilhante,
por que não usar?
Quando passei a ter mais acesso a conteúdos sobre crianças na internet, percebi que haviam pessoas que diziam educar sem bater, e que não só era possível, como melhor. Me interessei e li.

Descobri que o que me faltava, naqueles momentos tensos, era a compreensão de que crianças são humanas, e tem sentimentos iguais aos nossos. Eu precisei desconstruir a ideia de que educação e palmadas são sinônimos, e começar a entender que a palmada atrapalha na formação de uma criança, e muito.
Comecei a não ter mais preguiça em falar 10, 20, 50, 100 vezes a mesma coisa, pois esse era um dos motivos que me levava a recorrer a agressão. Percebi que o problema não é as crianças, mas sim, minha falta de paciência. Eu era a impaciente da história, eles não mereciam sentir dor por isso.
Hoje em dia, preciso falar cada vez menos, pois eles estão mais educados sem palmadas.

Além de entender o problema que eu tinha em orientar várias vezes, ou o de querer resultados aparentemente rápidos, eu precisava entender apenas mais uma coisa: Não bater não quer dizer não impor limites! Sim, as pessoas fazem essa confusão. Não é fácil distinguir uma coisa da outra, visto que crescemos aprendendo que pra impor limites, é necessário um tapa. 
Nós, quando éramos crianças, muitas vezes só entendemos que chegamos no limite quando apanhávamos, e isso não é bom, mas foi assim que nossos responsáveis nos condicionaram. 
Eu vejo hoje em dia que na grande maioria das vezes basta falar, pois meus filhos sabem que quando eu falo, não é a toa. Eles aprenderam a ouvir minhas palavras, e não a esperarem pela agressão pra perceberem que deveriam levar a sério. Demorei, mas consegui esse progresso. E estou lutando cada dia mais para vencer os impulsos que tenho de dar palmadas, pois está enraizado em mim, por mais que eu tenha apanhado raras vezes quando era criança.

Hoje em dia, paro pra lembrar das poucas vezes que apanhei. é claro que parei na hora o que estava fazendo, seja lá o que fosse, mas isso não queria dizer que aprendi algo, mas sim que tive medo. Isso não quer dizer que eu sabia que era errado, e muito menos queria dizer que eu não voltaria a fazer. Palavras nos fazem entender. Agressões de qualquer natureza não. 

                                  

Tenho certeza de que cadeias e fundações casa não estão cheias de pessoas criadas com amor! Ali tem pessoas que foram criadas a base da violência, ou da permissividade.
Pessoas educadas com amor não são pessoas que podem fazer tudo porque a mãe e o pai permitem, mas sim, pessoas que tem seus limites e suas regras muito bem estabelecidas. Essas pessoas não sofrem agressões pra entender que ultrapassaram limites ou quebraram regras, elas entendem as consequências que haverão por isso, consequências estas que não são dolorosas nem humilhantes. Elas podem reagir a isso, afinal, nem os adultos sofrem felizes as consequências ruins de seus erros, e nem sempre entendem. As crianças também não. Mas é importante o adulto compreender e não reprimir os sentimentos delas.

Agora virou lei!

E no fim, meus filhos estão melhorando muito, pois deixaram de ser agredidos e eu deixei de ser uma agressora. Sim! Agressora! Não tenho medo do título que carreguei mesmo com toda a melhor intenção do mundo.
Feliz com minha melhor escolha! Educar sem usar violência!!! Estou cada dia melhorando nisso, e tenho certeza que quem chegou até aqui, também consegue!