segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Outras formas de usar o prendedor de chupetas

Seu bebê ganhou tantos deles, e não usa chupeta???
Eu tenho uma boa dica de como usa-los de uma forma bem útil!!!


É só usa-los nos brinquedinhos que serão levados para fora de casa, e prende-los, para que não caiam e se sujem, pois o bebê leva tudo à boca!

Perdas (Como foram os meus abortos)

É um assunto que ninguém fala muito, talvez pelo tamanho da dor, porque sim, dói...
A gente não acredita que acontece com qualquer mulher, até acontecer a nós mesmas...
Parece uma realidade distante, parece que acontece somente em novelas, daquela forma fácil com que é tratado... Um simples sangramento e plim, bebê sumiu.
Mas não é assim, e só quem passou por um aborto para saber como realmente é!
Nas duas vezes que me aconteceu eu precisei ler sobre, afinal, me senti muito estranha ao perceber que tinha dois filhos saudáveis de duas gestações tranquilas dentro do possível, então, eu era capaz, mas havia perdido não só um, como dois bebês!!! 
O primeiro bebê tinha 14 semanas quando aconteceu. Era menino, e foi fruto de um relacionamento complicado e horrível, o qual terminou durante a gestação sem que eu nem soubesse da mesma. Tive sangramento, ameaça de aborto, precisei ficar de repouso e não podia passar nervoso de forma alguma. Meu ex não me deixou em paz, então, eu perdi, depois de uma semana de te-lo visto perfeitamente bem pelo ultrassom, se desenvolvendo perfeitamente e enorme!
Foi uma dor sem tamanho para mim!!! Eu senti meu chão se abrindo e queria que a terra me engolisse, pois, eu não tinha sido capaz de segurar meu bebê dentro de mim!
Sabendo ainda que eu o rejeitei no começo, devido a minha situação, só piorou as coisas para a minha consciência... Me senti a pior pessoa do mundo, como se minha rejeição tivesse o expulsado do meu corpo.
O segundo bebê, parou de se desenvolver com aproximadamente 6 semanas de gestação. Eu estava com 10 semanas quando um dos meus gatinhos morreu, eu fiquei muito mal com aquilo, e comecei a ter sangramentos. 
Fiz ultrassom, mas ainda não dava pra ouvir o coração por ser muito pequeno, só que as minhas contas não estavam erradas, minha menstruação era super regulada, então, eu NUNCA poderia estar de apenas 6 semanas. O médico falou que ele poderia ter parado de se desenvolver e eu só saberia a resposta dali a duas semanas, pois precisaria repetir o ultrassom para ter certeza de que ele estava ou não se desenvolvendo.
No dia seguinte, tive uma baita hemorragia, e o perdi.
O bebê de 14 semanas, perdi de forma muito mais traumática, pois ele já estava formado. Foi como um parto: As dores, o sangramento forte, muitas contrações, o período expulsivo, e a saída dele, inteirinho dentro da bolsa amniótica. Depois disso, as dores cessaram, e eu tive leite materno...
A segunda perda foi mais parecido com uma menstruação forte, com cólicas mais intensas. Não vi o feto, não tive leite, nada disso... O que ajudou a não me sentir pior do que já estava.
A primeira perda foi a mais dolorida, não só pelo fato do bebê já estar formado, e eu ter tido um "parto" e até leite materno. Foi também por ter acontecido de forma inesperada, quando eu acreditava que jamais aconteceria comigo.
Lembro de ter me sentido como se eu fosse incapaz, insuficiente, um corpo falho. 
Depois veio o sentimento de vazio. Eu estava oca!
Por mais que tivesse dois filhos, nenhum no mundo ia substituir aquele, e nunca houve substituição...
Mas confesso que depois de ter a Melissa, eu me senti melhor, pois havia me preparado para ser mãe pela terceira vez, de outro bebezinho, e aquilo me foi arrancado!!! Eu tinha amor para dar a 3 crianças, mas só tinha duas para receber...
Meu segundo aborto foi muito triste, pois além de perder um bebê, eu pensei que estava perdendo a capacidade de segurar uma gestação até o fim. Imaginei se um dia poderia ter outro bebê dentro de mim, e minha mente sempre me dizia que não.
O médico me tranquilizou, dizendo que eu ainda poderia ter mais um bebê, e que é normal pensar que não pode ter filhos depois de passar por um aborto. Eu lhe disse que já era o segundo, mesmo depois de dois filhos saudáveis e duas gestações completas, era o segundo bebê que eu perdia. Ele respondeu que, se eu perdesse mais um, seria investigado, mas por enquanto, era considerado apenas coincidência.
Nas duas vezes fiz curetagem. Descobri depois que não precisa fazer, pois o corpo trabalha sozinho nisso. Curetagem é arriscado e só deveria ser feito se o corpo não termina de expulsar tudo. Ela fere o endométrio, e é por isso que o recomendável é engravidar depois de 6 meses, pois há o risco de placenta prévia. 
Pois bem, engravidei 3 meses depois do último aborto, e além do medo de perder, tive sangramento outra vez!
Sofri muito, senti medo de perder, tive de ficar de repouso tomando uma medicação que me deixava enjoada, e dava uma baita dor de estômago, mas segui firme por um mês!
Só pude ter paz no fim da gravidez, quando sabia que já não a perderia tão fácil. 
Assim foi, e ela nasceu de 40 semanas e 4 dias!!! 
Hoje em dia, confio mais no meu corpo, e pretendo engravidar outra vez. Não desejo passar por isso outra vez, mas não vou temer antes da hora! 
Sei que é difícil voltar a confiar no próprio útero, e esse trauma permanece até mesmo nas gestações seguintes, mas é preciso arriscar para conseguir!
Hoje minha bebê me faz muito feliz, além dos meus outros filhos. Nunca esqueço dos bebês que perdi, mas está mais fácil levar a vida agora...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cinco Gestações

Há um certo tempo, eu curti a página no Facebook do filme "O Renascimento do Parto", pois estava com vontade de assistir.
Lá tem muitos relatos de parto, e eu li, alguns felizes, outros tristes, e chega a ser impossível não me lembrar dos meus 3 partos e dos meus 2 abortos espontâneos.

Minha primeira filha nasceu de cesárea marcada. Eu tinha 18 anos e achava a coisa mais normal do mundo marcar cesárea, ir no hospital, tirar o bebê, e me recuperar daquela dor chata. O médico falou em marcar data e só. Ele, como estudioso do corpo da mulher, não me disse que eu era capaz de parir. Não me disse que eu era capaz de amamentar. Nunca me disse nada a não ser sobre a cesárea que ele marcou, para uma menina de 18 anos cheia de saúde, e uma bebê com todas as condições do mundo de nascer por via vaginal.
Assim foi, dia e hora marcados, 40 semanas de gestação, nasceu minha bebê. Ficamos separadas por horas, eu nem pude toca-la quando ela nasceu.
Quando engravidei novamente, pouco mais de 2 anos depois, não tinha plano de saúde, então sabia que o parto normal me aguardava. Fui me adaptando com a ideia, e passei a gostar da nova experiência que teria.
Quando fizemos 37 semanas de gravidez, a bolsa rompeu. Cheguei na maternidade com 2 centímetros de dilatação. Logo o soro com Ocitocina me foi colocado.
As dores foram ficando tão intensas, que eu achei que iria morrer!!! Eu jamais imaginei que doeria tanto, e o pior: Eu pedi para me darem qualquer coisa para aliviar, mas nem da cama eu podia me levantar. Estava ali naquela cama, sofrendo por várias horas, sem poder levantar pra nada, olhando para o teto, sozinha...
Antes de ir para a sala de parto, me deixaram tomar um banho de água morna, e foi a única coisa que me trouxe um alívio.
Chegando na sala de parto, depois de algumas forças, o bebê começou a aparecer, daí sem nem me consultar, fizeram a episiotomia (Se consultassem, com certeza eu não teria dito não naquele tempo, mas é sempre bom pedir permissão ao lidar com o corpo alheio, sempre que possível).
Quando meu filho nasceu, eu não sei o que houve, mas senti uma fraqueza, pedi para alguém segura-lo, vi um sangramento forte sair de mim e a enfermeira deu um empurrão na minha barriga... Vi jorrar sangue, e senti um sono muito forte. Até hoje não sei se dormi ou desmaiei. Acordei no corredor, com um ardimento na episiotomia e o meu bebê no bercinho. Muitas mães estavam comigo, esperando ter vaga nos quartos.
Meu médico do pré natal também não me disse nada sobre amamentação, e a experiência foi um pouco pior do que da minha filha, com direito a "sapinho" e suspensão da amamentação.
Eu ficava pensando se queria passar por aquilo outra vez, caso tivesse outro filho. Achei que aquilo era normal, afinal, o nome daquilo não era "parto normal"???
Pois bem, engravidei novamente depois de 3 anos. Eu estava sem plano de saúde outra vez, e confesso que tive medo de ter outro parto normal, apesar de saber dos benefícios. Não queria ninguém me furando, me cortando, me fazendo sentir mais dor do que as próprias do momento, mas não sabia de forma alguma, que era possível parir com dignidade.
Assim que completei 14 semanas, perdi meu bebê. Fiquei internada em um lugar onde tinham mais algumas mulheres em processo de aborto, em uma salinha minúscula, deitada em uma maca dura, até ser encaminhada para a curetagem.
Após a curetagem, fiquei em um quarto da ala da maternidade, onde era mais confortável, mas tinha uma moça grávida junto de mim. Me senti péssima, pois tinha perdido meu filho, não estava preparada para ver grávidas na minha frente, muito menos ver mulheres sorridentes com seus bebês vivos no colo, assim como vi aos montes antes de ir para a curetagem. Aquilo me destruiu por dentro.
Depois de pouco mais de um ano, engravidei outra vez, e quando completei 10 semanas, perdi novamente. A dor física, a ambulância, a internação, tudo outra vez...
Em outro hospital diferente, fiquei em uma salinha minúscula, sem ventilação, com mais 4 meninas em processo de aborto, deitada em uma maca dura, com muita dor e hemorragia. Tive de esperar um tempo, de jejum, para realizar outra curetagem.
Mais algumas horas deitada naquela maca dura, em um quarto quente, ouvindo outras mulheres gritando para parir seus filhos e o chorinho deles. Meu bebê nunca iria nascer, nunca iria chorar.
Minutos antes da curetagem, me senti tão mal por tudo, o calor insuportável, o jejum, a perda, a tristeza de ver outras mulheres com seus bebês, a solidão em que estava, sem familiar nenhum comigo durante esse processo tão doloroso. Minha pressão caiu e eu desmaiei.
Quando me recuperei, fui pra curetagem. Ao terminar, voltei para a mesma salinha sem ar, onde só tinham as macas duras para dormir. Quando engravidasse novamente, eu desejei ter plano de saúde, cesárea, e tudo o que fosse rápido e não envolvesse nada daquilo.
Foi tanta violência escondida, que eu associei o parto normal, as dores, tudo isso, a coisas ruins. Engravidei outra vez, e escolhi cesárea, porém, tinha algo dentro de mim que pedia para eu parir minha filha!
Fui lendo, me informando melhor, e apesar de estar fazendo o pré natal com o mesmo médico cesarista que fez o parto da minha filha, decidi não fazer mais a cesárea. Ele ainda tentou me convencer dizendo que eu tive uma cesárea antes (minha filha estava com 9 anos), ou que poderia dar problema com a minha hérnia umbilical. Eu disse que não poderia pagar a taxa de disponibilidade, e ele logo desistiu de tentar me convencer.
A secretária do médico, no fim de uma consulta pré natal, me perguntou se eu já tinha agendado a data! Senti repulsa nesse momento, por tratarem o assunto como se fosse um dente podre: Marcar, arrancar e ir feliz pra casa.
Tive uma consulta com 37 semanas, onde ele me disse que minha filha estava cefálica, me deu uma carta de pré natal, com recomendações sobre o momento de ir ao hospital, e só! Me abandonou totalmente confusa!!!
Eu planejei começar o trabalho de parto em casa, pois não queria tantas intervenções, e ir pra maternidade quando minha filha estivesse nascendo, e assim o fiz (sem querer, diga-se de passagem).
Chegando lá, estava com 5 cm de dilatação. Fui super bem tratada pela maior parte dos funcionários, mas odiei o fato da médica simplesmente ir fazendo as coisas sem nem me consultar, como se eu não fosse importante no meu próprio parto e ela soubesse mais das minhas necessidades.
Não me permitiram acompanhante no pré parto, mesmo que a única presente no momento fosse uma mulher, a minha mãe, e que eu estivesse sozinha no pré parto.
Tomei Ocitocina, mas como estava dilatando muito rápido, não deu tempo de sentir a dor absurda que senti da outra vez. Estava disposta a aceitar anestesia, mas não sabia que o anestesista ia errar cinco vezes (coincidência ou não, momentos antes eu o vi e escutei brigando no celular com alguém).
No momento do parto, mais uma episiotomia sem nem eu saber. Uma enfermeira disse que eu não estava fazendo força do jeito certo e empurrou minha barriga. Até acreditei que ela fez para ajudar, mas odiei aquilo.
Toda vez que ia fazer um exame, e na hora do parto, me colocaram naquela posição de barriga pra cima, eu já não aguentava mais aquele peso em cima de mim, me sufocando! Eu queria parir em outra posição mais confortável!!!
Forças depois bebê nasceu! Veio para mim, tentou mamar, mas logo a levaram, e eu fui me recuperar da anestesia. Passei horas longe dela.

Com todas essas experiências, digo que em momento nenhum, me senti completamente respeitada! As piores experiências foram aquelas que muitas, assim como eu, passaram, mas ninguém fala sobre: As perdas, o local onde nos "jogam" como se uma mulher que estivesse "apenas" abortando não fosse importante o suficiente para ter conforto, e não estivesse abalada o suficiente, para ficar entre mulheres que estão parindo seus filhos cheios de saúde, na maior parte das vezes!
A cesárea estava mascarada com uma tranquilidade que não existe, pois a recuperação de um pós cirúrgico é dolorida, e eu não podia sorrir no momento que minha filha nasceu, pois doía! Eu não pude cuidar dela sem ajuda nos primeiros momentos. Eu não pude amamenta-la logo, pois meu leite não desceu por causa da cesárea marcada.
O parto normal do meu filho não foi nada normal, foi cheio de intervenções desnecessárias! A Ocitocina me fez sentir uma dor tão absurda, que quase me fez abdicar do sonho de ter mais filhos. Fora o pouco caso em que fui deixada sofrendo, numa cama, sozinha por horas, sem nem poder fazer nada para aliviar a dor, morrendo de medo de soltar um grito e ser mal tratada.
O parto da minha filha caçula foi o que menos teve interferências e que eu menos sofri, isso porque a maior parte do trabalho de parto eu não estive no hospital.
Eu já decidi que ainda quero mais um filho, mas dessa vez, será natural!!! Sem precisar ficar colada em uma cama, podendo aliviar minha dor de várias formas, inclusive gritando se eu quiser. Sem me furarem, cortarem, realizarem procedimentos em mim sem permissão ou me incapacitarem!
Quero poder não ser separada do meu bebê, e que não o esfreguem, não o aspirem, não pinguem colírio em seus olhinhos, não o separem de mim antes que o cordão pare de pulsar (eu li e muito sobre a importância disso, outra novidade pra mim!), que ele mame e fique seguro no colinho!!! Quero poder rir alto, sem sentir uma dor horrível no meu abdome, poder caminhar com meu bebê, poder amamentar da forma certa... Parece um sonho, mas pode ser realidade!!! Aliás, deveria ser realidade!!! Todo bebê merece nascer assim, e toda mãe merece parir dignamente!!!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Quando Sua Mãe Diz Que é Gorda


Li esse texto aqui! Espero que mude a forma das pessoas pensarem, assim como mudou a minha!!!





Por Kasey Edwards


Querida mãe,

Eu tinha sete anos quando descobri que você era gorda, feia e horrorosa.

Até então, eu acreditava que você era linda – em todos os sentidos da palavra. Eu lembro de fuçar os antigos álbuns e ficar um bom tempo olhando para fotos suas no deck de um barco. Seu maiô branco, tomara que caia, parecia glamuroso como o de uma estrela de cinema. Sempre que eu tinha a chance, tirava aquele maiô maravilhoso do fundo do seu armário e ficava imaginando quando é que eu seria grande o suficiente para vesti-lo, quando é que eu seria como você.

Mas numa noite, tudo isso mudou. Estávamos todos vestidos para uma festa e você me disse: “Olha para você, tão magra e bonita. E olha para mim, gorda, feia, horrorosa.”

De primeira, não entendi o que você quis dizer.

“Você não é gorda.” - eu disse, inocente e com sinceridade - ao que você respondeu, “Sim, eu sou, querida. Sempre fui gorda, desde criança.”

Nos dias seguintes, eu tive algumas revelações doloridas, que moldaram a minha vida toda. Concluí que:

1. você deveria ser mesmo gorda, porque mães não mentem.

2. gordo é sinônimo de feio e horroroso.

3. quando eu crescesse, seria como você e, portanto, seria gorda, feia e horrorosa também.

Passados alguns anos, eu revivi essa conversa e todas as centenas de outras que vieram depois e tive muita raiva de você. Por não se julgar atraente ou digna de atenção. Por ser tão insegura. Porque, como meu grande modelo de mulher, você me ensinou a agir assim também.

A cada careta que você fazia em frente ao espelho, a cada nova dieta do momento que iria mudar sua vida, a cada colherada culpada de “ai, eu não devia”, eu aprendia que mulheres deveriam ser magras para serem dignas e socialmente aceitas. Que meninas deveriam passar por privações porque a maior contribuição delas para o mundo era a aparência física.


Exatamente como você, eu passei a minha vida inteira me sentindo gorda – (nem sei quando foi que “gorda” se tornou um sentimento). E porque eu acreditava que era gorda, também me achava imprestável.


Mas os anos se passaram. Sou mãe. E sei que te culpar por minha péssima relação com meu corpo é inútil e injusto. Hoje entendo que você também é um produto de uma longa linhagem de mulheres que foram ensinadas a se odiar.

Olha só para o exemplo que a vovó te deu. Era uma vítima da própria aparência, e fez regime todos os dias da vida dela até morrer, aos 79 anos. Costumava se maquiar para ir ao correio, por medo de alguém vê-la de cara lavada.

Eu lembro do “suporte” que ela te deu quando você anunciou que papai tinha te deixado por outra mulher. O primeiro comentário dela foi, “Eu não entendo porque ele te deixaria. Você se cuida, usa batom. Entendo que você esteja acima do peso, mas não é muito.”

Papai também não te acalentava.

“Meu Deus, Jan”, uma vez ouvi ele te dizer. “Não é difícil. Calorias consumidas x calorias gastas. Se você quer perder peso, você só tem que comer menos.”

Aquela noite, no jantar, eu assisti você implementar essa dica milagrosa de emagrecimento do papai. Você preparou um chow mein para o jantar (se lembra como, nos anos 80, no subúrbio da Austrália, essa combinação de carne moída, repolho e shoyu era considerada o melhor da culinária exótica?). A comida de todo mundo estava em um prato comum, mas a sua estava em um pratinho de sobremesa.

Enquanto você sentava em frente a sua patética porção de carne moída, lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto. Eu não disse nada. Nem quando os seus ombros começaram a curvar por causa do seu incomodo. Ninguém te amparou. Ninguém te disse para deixar de ser ridícula e se servir um prato decente. Ninguém te disse que você já era amada, já era boa o suficiente. Suas conquistas e seu valor – como professora de crianças com necessidades especiais e mãe de três filhos – eram repetidamente reduzidas à insignificância quando comparadas aos centímetros de cintura que você não conseguia perder.

Me despedaçou o coração testemunhar seu desespero, e sinto muito por não ter te defendido. Eu já tinha aprendido, àquela altura, que você ser gorda era culpa sua. Eu tinha ouvido papai falar de perder peso como um processo “muito simples” – coisa que, ainda assim, você não conseguia fazer. A lição: você não merecia comer e com certeza não merecia nenhuma compreensão.

Mas eu estava errada, mãe. Hoje eu entendo o que é crescer em uma sociedade que diz para as mulheres que a beleza delas é o que mais importa, e, ao mesmo tempo, define padrões estéticos absoluta e eternamente fora de alcance. Eu também entendo a dor que é internalizar essas mensagens. Nós acabamos nos tornando nossos próprios carcereiros e nos impomos punições sempre que não conseguimos chegar lá. Ninguém é mais cruel conosco do que nós mesmas.

Mas essa maluquice precisa acabar, mãe.

Acaba com você, acaba comigo. Acaba agora. Merecemos mais – mais que ter dias horríveis por pensamentos ligados a nossa péssima forma física, desejando que ela fosse diferente. E não é mais só sobre você e eu. É também sobre a Violet. Sua neta tem apenas 3 anos e eu não quero que esse ódio ao corpo tome conta dela e estrangule sua felicidade, sua confiança, seu potencial. Eu não quero que ela acredite que a aparência é o maior ativo que ela possui, e que vai definir o valor dela no mundo. Quando a Violet nos olha para aprender a ser uma mulher, precisamos ser os melhores modelos que pudermos. Precisamos mostrar para ela, com palavras e com as nossas ações, que as mulheres são boas o suficiente exatamente como são. E para ela acreditar, nós precisamos acreditar primeiro.

Quanto mais velhas ficamos, mais pessoas queridas perdemos, doentes ou em acidentes. A perda é sempre trágica, sempre muito precoce. Às vezes eu penso o que essas pessoas não dariam para ter mais tempo num corpo saudável. Um corpo que as permitisse viver um pouco mais. O tamanho das coxas ou os pés de galinha não importariam. Seria vivo, e portanto seria perfeito.

O seu corpo é perfeito.

Ele te permite desarmar todo mundo com seu sorriso, contaminar cada um com sua risada. Te dá seus braços para envolver a Violet e apertá-la até ela gargalhar. Cada momento que gastamos nos preocupando com a nossa forma física é um momento jogado fora, um pedaço precioso de vida que a gente não vai recuperar nunca mais.

Vamos honrar e respeitar nossos corpos pelo que eles fazem ao invés de desprezá-los pelo que eles são. Vamos manter o foco em viver vidas saudáveis e ativas, deixar nosso peso de lado e largar nosso ódio ao corpo no passado, que é onde ele merece ficar.

Quando eu olhava para aquela foto sua de maiô branco anos atrás, meus olhos inocentes de criança enxergavam a verdade. Eu via amor incondicional, beleza e sabedoria. Eu via a minha mãe.

Com amor,

Kasey.