sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cinco Gestações

Há um certo tempo, eu curti a página no Facebook do filme "O Renascimento do Parto", pois estava com vontade de assistir.
Lá tem muitos relatos de parto, e eu li, alguns felizes, outros tristes, e chega a ser impossível não me lembrar dos meus 3 partos e dos meus 2 abortos espontâneos.

Minha primeira filha nasceu de cesárea marcada. Eu tinha 18 anos e achava a coisa mais normal do mundo marcar cesárea, ir no hospital, tirar o bebê, e me recuperar daquela dor chata. O médico falou em marcar data e só. Ele, como estudioso do corpo da mulher, não me disse que eu era capaz de parir. Não me disse que eu era capaz de amamentar. Nunca me disse nada a não ser sobre a cesárea que ele marcou, para uma menina de 18 anos cheia de saúde, e uma bebê com todas as condições do mundo de nascer por via vaginal.
Assim foi, dia e hora marcados, 40 semanas de gestação, nasceu minha bebê. Ficamos separadas por horas, eu nem pude toca-la quando ela nasceu.
Quando engravidei novamente, pouco mais de 2 anos depois, não tinha plano de saúde, então sabia que o parto normal me aguardava. Fui me adaptando com a ideia, e passei a gostar da nova experiência que teria.
Quando fizemos 37 semanas de gravidez, a bolsa rompeu. Cheguei na maternidade com 2 centímetros de dilatação. Logo o soro com Ocitocina me foi colocado.
As dores foram ficando tão intensas, que eu achei que iria morrer!!! Eu jamais imaginei que doeria tanto, e o pior: Eu pedi para me darem qualquer coisa para aliviar, mas nem da cama eu podia me levantar. Estava ali naquela cama, sofrendo por várias horas, sem poder levantar pra nada, olhando para o teto, sozinha...
Antes de ir para a sala de parto, me deixaram tomar um banho de água morna, e foi a única coisa que me trouxe um alívio.
Chegando na sala de parto, depois de algumas forças, o bebê começou a aparecer, daí sem nem me consultar, fizeram a episiotomia (Se consultassem, com certeza eu não teria dito não naquele tempo, mas é sempre bom pedir permissão ao lidar com o corpo alheio, sempre que possível).
Quando meu filho nasceu, eu não sei o que houve, mas senti uma fraqueza, pedi para alguém segura-lo, vi um sangramento forte sair de mim e a enfermeira deu um empurrão na minha barriga... Vi jorrar sangue, e senti um sono muito forte. Até hoje não sei se dormi ou desmaiei. Acordei no corredor, com um ardimento na episiotomia e o meu bebê no bercinho. Muitas mães estavam comigo, esperando ter vaga nos quartos.
Meu médico do pré natal também não me disse nada sobre amamentação, e a experiência foi um pouco pior do que da minha filha, com direito a "sapinho" e suspensão da amamentação.
Eu ficava pensando se queria passar por aquilo outra vez, caso tivesse outro filho. Achei que aquilo era normal, afinal, o nome daquilo não era "parto normal"???
Pois bem, engravidei novamente depois de 3 anos. Eu estava sem plano de saúde outra vez, e confesso que tive medo de ter outro parto normal, apesar de saber dos benefícios. Não queria ninguém me furando, me cortando, me fazendo sentir mais dor do que as próprias do momento, mas não sabia de forma alguma, que era possível parir com dignidade.
Assim que completei 14 semanas, perdi meu bebê. Fiquei internada em um lugar onde tinham mais algumas mulheres em processo de aborto, em uma salinha minúscula, deitada em uma maca dura, até ser encaminhada para a curetagem.
Após a curetagem, fiquei em um quarto da ala da maternidade, onde era mais confortável, mas tinha uma moça grávida junto de mim. Me senti péssima, pois tinha perdido meu filho, não estava preparada para ver grávidas na minha frente, muito menos ver mulheres sorridentes com seus bebês vivos no colo, assim como vi aos montes antes de ir para a curetagem. Aquilo me destruiu por dentro.
Depois de pouco mais de um ano, engravidei outra vez, e quando completei 10 semanas, perdi novamente. A dor física, a ambulância, a internação, tudo outra vez...
Em outro hospital diferente, fiquei em uma salinha minúscula, sem ventilação, com mais 4 meninas em processo de aborto, deitada em uma maca dura, com muita dor e hemorragia. Tive de esperar um tempo, de jejum, para realizar outra curetagem.
Mais algumas horas deitada naquela maca dura, em um quarto quente, ouvindo outras mulheres gritando para parir seus filhos e o chorinho deles. Meu bebê nunca iria nascer, nunca iria chorar.
Minutos antes da curetagem, me senti tão mal por tudo, o calor insuportável, o jejum, a perda, a tristeza de ver outras mulheres com seus bebês, a solidão em que estava, sem familiar nenhum comigo durante esse processo tão doloroso. Minha pressão caiu e eu desmaiei.
Quando me recuperei, fui pra curetagem. Ao terminar, voltei para a mesma salinha sem ar, onde só tinham as macas duras para dormir. Quando engravidasse novamente, eu desejei ter plano de saúde, cesárea, e tudo o que fosse rápido e não envolvesse nada daquilo.
Foi tanta violência escondida, que eu associei o parto normal, as dores, tudo isso, a coisas ruins. Engravidei outra vez, e escolhi cesárea, porém, tinha algo dentro de mim que pedia para eu parir minha filha!
Fui lendo, me informando melhor, e apesar de estar fazendo o pré natal com o mesmo médico cesarista que fez o parto da minha filha, decidi não fazer mais a cesárea. Ele ainda tentou me convencer dizendo que eu tive uma cesárea antes (minha filha estava com 9 anos), ou que poderia dar problema com a minha hérnia umbilical. Eu disse que não poderia pagar a taxa de disponibilidade, e ele logo desistiu de tentar me convencer.
A secretária do médico, no fim de uma consulta pré natal, me perguntou se eu já tinha agendado a data! Senti repulsa nesse momento, por tratarem o assunto como se fosse um dente podre: Marcar, arrancar e ir feliz pra casa.
Tive uma consulta com 37 semanas, onde ele me disse que minha filha estava cefálica, me deu uma carta de pré natal, com recomendações sobre o momento de ir ao hospital, e só! Me abandonou totalmente confusa!!!
Eu planejei começar o trabalho de parto em casa, pois não queria tantas intervenções, e ir pra maternidade quando minha filha estivesse nascendo, e assim o fiz (sem querer, diga-se de passagem).
Chegando lá, estava com 5 cm de dilatação. Fui super bem tratada pela maior parte dos funcionários, mas odiei o fato da médica simplesmente ir fazendo as coisas sem nem me consultar, como se eu não fosse importante no meu próprio parto e ela soubesse mais das minhas necessidades.
Não me permitiram acompanhante no pré parto, mesmo que a única presente no momento fosse uma mulher, a minha mãe, e que eu estivesse sozinha no pré parto.
Tomei Ocitocina, mas como estava dilatando muito rápido, não deu tempo de sentir a dor absurda que senti da outra vez. Estava disposta a aceitar anestesia, mas não sabia que o anestesista ia errar cinco vezes (coincidência ou não, momentos antes eu o vi e escutei brigando no celular com alguém).
No momento do parto, mais uma episiotomia sem nem eu saber. Uma enfermeira disse que eu não estava fazendo força do jeito certo e empurrou minha barriga. Até acreditei que ela fez para ajudar, mas odiei aquilo.
Toda vez que ia fazer um exame, e na hora do parto, me colocaram naquela posição de barriga pra cima, eu já não aguentava mais aquele peso em cima de mim, me sufocando! Eu queria parir em outra posição mais confortável!!!
Forças depois bebê nasceu! Veio para mim, tentou mamar, mas logo a levaram, e eu fui me recuperar da anestesia. Passei horas longe dela.

Com todas essas experiências, digo que em momento nenhum, me senti completamente respeitada! As piores experiências foram aquelas que muitas, assim como eu, passaram, mas ninguém fala sobre: As perdas, o local onde nos "jogam" como se uma mulher que estivesse "apenas" abortando não fosse importante o suficiente para ter conforto, e não estivesse abalada o suficiente, para ficar entre mulheres que estão parindo seus filhos cheios de saúde, na maior parte das vezes!
A cesárea estava mascarada com uma tranquilidade que não existe, pois a recuperação de um pós cirúrgico é dolorida, e eu não podia sorrir no momento que minha filha nasceu, pois doía! Eu não pude cuidar dela sem ajuda nos primeiros momentos. Eu não pude amamenta-la logo, pois meu leite não desceu por causa da cesárea marcada.
O parto normal do meu filho não foi nada normal, foi cheio de intervenções desnecessárias! A Ocitocina me fez sentir uma dor tão absurda, que quase me fez abdicar do sonho de ter mais filhos. Fora o pouco caso em que fui deixada sofrendo, numa cama, sozinha por horas, sem nem poder fazer nada para aliviar a dor, morrendo de medo de soltar um grito e ser mal tratada.
O parto da minha filha caçula foi o que menos teve interferências e que eu menos sofri, isso porque a maior parte do trabalho de parto eu não estive no hospital.
Eu já decidi que ainda quero mais um filho, mas dessa vez, será natural!!! Sem precisar ficar colada em uma cama, podendo aliviar minha dor de várias formas, inclusive gritando se eu quiser. Sem me furarem, cortarem, realizarem procedimentos em mim sem permissão ou me incapacitarem!
Quero poder não ser separada do meu bebê, e que não o esfreguem, não o aspirem, não pinguem colírio em seus olhinhos, não o separem de mim antes que o cordão pare de pulsar (eu li e muito sobre a importância disso, outra novidade pra mim!), que ele mame e fique seguro no colinho!!! Quero poder rir alto, sem sentir uma dor horrível no meu abdome, poder caminhar com meu bebê, poder amamentar da forma certa... Parece um sonho, mas pode ser realidade!!! Aliás, deveria ser realidade!!! Todo bebê merece nascer assim, e toda mãe merece parir dignamente!!!

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