terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quando os outros decidiram sobre o meu parto...

"DESNE"CESÁREA

Minha primeira filha nasceu de cesárea.
Antes que você se pergunte o motivo, a resposta é não! Ela não correu riscos, minha gestação foi perfeita, tudo foi lindo! Ela estava em posição cefálica, com um peso bom e tamanho bom, tudo muito bem!

Engravidei da minha filha quando tinha 18 anos, e naquela época, pra mim, o que um médico dizia era lei, era a verdade absoluta inquestionável. Eu não sabia que ele era apenas um ser humano, assim como eu, e que o conhecimento que ele possui, eu também tinha capacidade de adquirir.
Meu pré natal começou tarde, aos 3 ou 4 meses de gravidez, pois eu não sabia que precisava fazer desde sempre, e como minha mãe, que também não tinha toda informação necessária, disse que não tinha tanta necessidade, fiz dessa forma.
Quando fui me aproximando das 40 semanas, comecei a me preocupar como seria meu parto, onde, e qual médico faria (hoje só aceito que eu mesma faça meu parto com a ajuda do médico).
A médica disse que precisaria acertar com a maternidade para poder realizar meu parto lá, onde eu queria, por escolha minha. 
Como naquela época meu plano de saúde cobria qualquer maternidade que eu quisesse, eu decidi por uma que me parecia o lugar perfeito.
Fui visitar, e me falaram de índice de infecção hospitalar, hotelaria, segurança, etc etc etc... Me falaram de TUDO, menos do índice de cesáreas, que passa de 90%.
Se eu soubesse, teria desconfiado, mas não sei se teria mudado de ideia, pois para a minha mentalidade na época, hospital bom era assim mesmo, e maternidade pública mataria minha filha forçando um parto normal até eu não aguentar mais e ir parar em uma cesárea, depois de sentir toda a dor (é incrível o quanto nos fazem pensar que somos incapazes, e que vamos parar em uma cesárea, de um jeito ou de outro!), e ainda tinha o risco da infecção hospitalar ou de roubarem minha bebê. Eu não poderia estar mais enganada.
Minha médica não resolveu o que deveria, então, meus pais decidiram me levar no médico da família, que tinha feito vários partos de tias minhas, inclusive da minha madrasta e da minha mãe. Só para acrescentar, de 7 dos partos que eu sei que ele fez, 5 foram cesáreas, e nesse ano de 2013, em uma conversa com essas minhas tias, descobri que a desculpa foi sempre a mesma. Contando comigo, já seriam 8 partos, sendo 6 deles, cesárea. Como não enxerguei isso antes???

Minha mãe sempre me falou muito bem de suas cesáreas, e minha avó sempre me falou muito mal de seus partos normais. Isso pesou muito na minha decisão. A questão é que eu não tinha parado pra pensar que nem minha mãe, nem minha avó tinham vivido os dois tipos de parto para fazer uma comparação justa. Eu comparei os argumentos de duas pessoas completamente diferentes, com corpos e percepções distintas, além da tolerância a dor, que é diferente de mulher para mulher. Não pensei o quanto poderiam ter entupido minha mãe de medicamentos para que ela não sentisse nada, e que minha avó pariu naturalmente, então, obviamente, sentiu a dor das contrações e do parto.

Uma receita de "sucesso" para terminar em cesárea: uma garota de 18 anos, mal informada, sem os recursos que temos hoje em dia (internet, sites de pesquisas, blogs de mães, entre outros), com medo, nas mãos de médico cesarista, com um baita plano de saúde que cobre qualquer coisa, em qualquer hospital, véspera de dois feriados importantíssimos (Natal e Ano-Novo), e descaso da médica anterior.

Acabei na faca, tendo minha filha de cesárea marcada, para o dia 20 de dezembro de 2003, antes dos feriados, pois meu pai foi viajar e eu tive medo de entrar em trabalho de parto no meio das festas e acabar em um hospital carniceiro que me forçaria ao parto normal até a morte da minha filha, para depois terminar em uma cesárea onde retirariam o corpinho dela (Fala sério, que loucura pensar assim!).
Me perdoo por estar insegura, afinal, TODA grávida se sente insegura, é natural. 
Só penso o quanto não consigo perdoar o meu médico, por não ter me falado que a cesárea me deixaria com consequências, talvez, para o resto da vida.
Aquela cicatriz minúscula não é nada, NADA se comparado ao que poderia ter acontecido ao retirar minha filha antes da hora dela, nada se comparado a ter uma cicatriz no útero sendo uma pessoa tão novinha, nada se comparado ao risco de piorar a anemia que eu estava na época, de tanto sangue que perdi...

Não me conformo, como pode um médico submeter uma jovem cheia de saúde a um procedimento tão invasivo, tão desnecessário, tão arriscado???
Eu poderia parir, melhor do que pari meus outros filhos, pois eu era cheia de energia! 
Eu não sabia que, se engravidasse em pouco tempo, teria de fazer outra cesárea. E depois de duas cesáreas, possivelmente, nunca mais poderia ter um parto normal...
Ele não pensou que minhas decisões poderiam ser outras no futuro? Que eu poderia não querer mais cesárea? Que eu, um dia, poderia querer vivenciar o parir de uma forma mais natural? Eu era tão nova! É CLARO que eu poderia ter mais filhos... Ele não imaginou que um dia eu pudesse me informar e descobrir o quanto é lindo, natural, saudável, menos arriscado, e muito mais de acordo comigo, parir meus filhos???

Se eu tivesse sido informada, com tudo o que tenho de direito, e soubesse das minhas decisões, certamente eu não poderia culpar ninguém, afinal, cada uma é dona do seu corpo e sabe onde seu calo aperta, mas sou radicalmente contra a escolha sem informação, o escolher por escolher...
Tenho certeza que, mesmo as mulheres tendo o direito de escolha, se tivessem mais informações, dificilmente escolheriam a cesárea.

Eu nunca havia me arrependido do meu parto, minha cesárea foi tranquila, minha recuperação excelente! Uma vizinha que também foi submetida a cesárea, me perguntava como eu conseguia subir e descer escadas, pois ela não levantou da cama por um mês. 
Apesar de não ter chegado a isso, me lembro do quanto eu me sentia feliz com a chegada da minha princesa, mas não podia rir, pois doía o corte... Tossir, espirrar ou levantar da cama também eram tortura! Eu fazia tudo, pois sou muito tolerante a dor, mas sim, senti doendo todo o meu corpo!
Hoje em dia eu me pergunto: PRA QUE ISSO??? Eu poderia ter parido minha filha, poderia ter sentido a dor, mas depois da chegada dela, eu poderia rir a vontade! As pessoas poderiam me falar coisas engraçadas sem eu precisar pedir para pararem, assim como levantar para amamentar minha filha (quase ia me esquecendo de dizer que meu leite demorou a descer por causa da cesárea marcada), ou também, não sentir pânico se percebesse que iria tossir ou espirrar.

No fundo, no fundo, meu corpo talvez não quisesse isso, pois me lembro de ter ficado tão nervosa, que meus ombros doíam insuportavelmente durante a cirurgia. Eu já havia me estressado com meu pai e meu ex brigando na minha frente, mas quando começaram todo o procedimento, foi demais para mim. Não quero sentir aquela dor nunca mais! Muita tensão!

Nos estágios do curso de enfermagem, tive oportunidade de assistir partos ao vivo, foi a melhor parte daquele curso! Amei!!!
Então, assisti a alguns partos normais, é bonito de se ver, até me emocionei... Pude acompanhar os procedimentos no recém nascido (hoje em dia, sinto como se tivesse roubado o lugar da mãe nesses primeiros momentos), e era muito bom.
Quando assisti a uma cesárea, me senti enojada! O cheiro de carne queimada por causa do bisturi elétrico, aquele puxa-daqui-empurra-de-lá, e o rasgo no útero... Na hora do nascimento me emocionei demais, da mesma forma, mas pensei: NUNCA MAIS deixo fazerem isso comigo novamente, com meu corpo, nem com um filho meu!
E quase me esqueci disso...

PARTO NORMAL HOSPITALAR. NEM TÃO NORMAL ASSIM!

Tive meu filho de parto normal, pois estava sem plano de saúde, então sabia que nem poderia escolher.
Na época, o que tinha visto no curso estava fresquinho na memória, então, eu me senti muito segura do meu parto normal, e estava louca para experimentar essa nova experiência na minha vida!
Gravidez linda, perfeita, saudável, meu filho super bem, posição cefálica, tudo certo para um parto normal.
Completamos 37 semanas e 2 dias, e a bolsa estourou. Imaginei que meu filho cairia por entre as pernas e corri pro hospital, o que abriu espaço para vários e vários procedimentos desnecessários.
Assim que cheguei, colocaram o soro com Ocitocina, e não me deixavam levantar.
Quando a dor começou, pedi qualquer coisa para aliviar. Fiquei horas e horas com aquela dor insuportável e só ganhei um banho quente, isso quando meu filho já estava quase nascendo.
O resto do tempo tive de ficar ali, deitada naquela cama, com aquele elástico horroroso me espremendo, para fazer o exame que avaliava os movimentos e batimentos do bebê, assim como minhas contrações, e calada, pois tive medo de gritar e ser maltratada, assim como presenciei em meus estágios. Violência Obstétrica, eu não conhecia esse termo, mas era disso que eu tinha medo! Sabia que eles judiavam mais das que faziam escândalo, Muito triste sentir uma dor insuportável, provocada pelo medicamento que eles me deram, e não poder gritar!
Já na sala de parto, não precisei fazer muita força para meu filho sair, decidi me dedicar de corpo e alma em apenas uma, para me livrar logo daquilo, já não aguentava mais sofrer!
Apertei o ferro da cama, e na pior posição possível para se parir, meu filho apareceu. Não saiu em uma força só, mas sairia naquela de qualquer jeito, então coloquei toda a força que poderia ali, e saiu a cabeça. Não demorou a sair o corpinho, pois quase me matei ali para forçar. Terminei com as mãos roxas, esgotada, sem forças para segurar meu filho...
Percebi que tive um sangramento forte, uma cólica das piores, e apaguei. Até hoje não sei se dormi ou desmaiei, só tive tempo de sentir a enfermeira apertando minha barriga, ver o sangue jorrando pela sala inteira, e de pedir para que segurassem meu filho antes que eu o deixasse cair.
Fui acordar no corredor, sem nem saber qual daqueles bercinhos tinha dentro o meu filho, e não o filho de uma outra pessoa.
Percebi que fizeram uma episiotomia, mas achei normal, pois aprendi que era procedimento padrão dos hospitais, para não correr o risco de rasgar e não conseguirem suturar o corte irregular. Hoje em dia, sei da violência que meu corpo sofreu sem necessidade!
Me senti muito insegura com o parto normal depois disso, pois pedi tanto por um alívio e ninguém me deu nada, nem me deixaram levantar para passar o tempo mais depressa, eu não podia gritar, tive de controlar os gemidos... Tudo isso só fez a dor piorar, e parecia uma eternidade olhar para o teto da sala de pré parto, sem companhia, sem nada para me distrair, e sem conseguir dormir a madrugada toda...

DEPOIS DE DUAS PERDAS, DUAS CURETAGENS, OUTRO PARTO NORMAL HOSPITALAR

Desde que engravidei, por questão de insegurança com toda aquela dor, por morar em um lugar de difícil acesso, por medo de piorar a hérnia que tenho no umbigo, e principalmente, por querer fazer uma laqueadura, optei pela cesárea.
Cheguei a perguntar para o meu médico como seria, e ele cobrou a tal taxa de disponibilidade, o que mee custaria um dinheiro que eu não tinha.
Aos poucos, fui me lembrando do que tinha visto, das dores pós cirúrgicas, e percebendo que, agora que tenho minha casa e não moro com a família, para ter ajuda, não poderia ter uma recuperação difícil. Eu precisava estar inteira pra cuidar de tudo!
Fora que eu não queria fazer aquilo com meu corpo outra vez!
Sonhei em amamentar minha bebê, em dar o melhor para ela, mas minha experiência com amamentação sempre deu errado (também por falta de informação). Sabia que, se marcasse cesárea, dificultaria tudo, e possivelmente, teria mais uma experiência fracassada.
Decidi que queria parto normal, porém, com anestesia e sem Ocitocina. Decidi que não queria ser cortada, se não fosse caso de extrema necessidade. 
Fui firme na escolha de esperar o trabalho de parto se iniciar em casa, e ir para o hospital quando estivesse quase parindo, para evitar procedimentos desnecessários, mas meu médico (o mesmo que me fez a primeira cesárea) me abandonou quando decidi esperar pelo parto normal, e me deu alta com 37 semanas, me deixando somente com uma carta de internação para quando eu sentisse dores rítmicas ou quando estourasse a bolsa. Eu não sabia exatamente o que fazer, então decidi ir ao hospital no fim de semana fingindo uma dor, para receber orientação, pois estava com 40 semanas, com muitas contrações, mas nunca ritmadas.
Acordei com muitas dores, que já estavam intensas há 2 dias, e fui para a maternidade. Cheguei lá com 5 centímetros de dilatação, quase parindo, do jeito que eu queria.
Apesar de ter sido meu melhor parto, teve uns detalhes que não gostei, como por exemplo, a médica só ter me questionado se poderia estourar a bolsa para examinar o líquido amniótico. De resto, chegaram com Ocitocina (que eu não sei porque aceitei passivamente, mas nem deu tempo de fazer efeito), me cortaram sem nem eu saber, e a enfermeira me "ajudou" a empurrar, com o braço sobre minha barriga, pois eu não havia comido nada, estava fraca e isso diminuiu os movimentos da Mel dentro da barriga, mas mesmo assim, não me deram a opção de comer nada... Como alguém pode ter energia pra parir assim???
Agora vou falar da bendita anestesia: INÚTIL!
Me livrei de 10 minutos de dor, que não estava tão forte, afinal, era meu corpo naturalmente me fazendo sentir o que eu realmente precisava, sem exageros.
O anestesista errou umas 5 vezes, o que me deixou com mais dor ainda, e me impediu de aproveitar o momento de dar as boas vindas para minha bebê.
Precisei ficar longe dela depois do parto para me recuperar, enquanto ela precisava do meu colinho, do meu cheiro, pois ela acabou de nascer, de chegar em um lugar completamente estranho, e a única referência de segurança pra ela era o cheiro da mamãe! Ela deve ter sentido uma sensação horrível longe de mim, assim como eu senti longe dela! Eu já tinha aprendido que não era fácil nascer, como eu pensava que era lá aos meus 18 anos... Minha filha mais velha também deve ter sofrido essa sensação de abandono longe da mamãe dela!

Hoje em dia, minha coluna dói muito onde foi aplicada a anestesia. Não me contaram que isso aconteceria, nem nos relatos de parto que li. Posso sentir quando o tempo está esfriando, pois é uma dor insuportável! Até mesmo quando estou sentada, se levanto os pés, já sinto como se fosse um puxão. Me livrei de 10 minutos de dor, para sentir dor por meses, que negócio da China hein...

Depois disso tudo, afirmo que meu próximo parto será, dentro das possibilidades REAIS, o mais natural possível! Não vou permitir que me façam nada sem necessidade e sem me pedir! Se eu quiser, vou gritar, vou andar, vou parir em uma posição favorável, vou ter gente do meu lado me apoiando, vou me aliviar, vou comer se quiser, vou ler, tomar quantos banhos eu achar que devo... Enfim, vou estar NO CONTROLE da situação, da MINHA situação, do MEU CORPO, e da minha mente. Meu bebê não vai sair de perto de mim de maneira alguma!

Foi sofrendo que eu aprendi o que deveria nascer sabendo: Meu parto sou eu quem faço, com ajuda dos outros, e é muito raro a natureza falhar! Sou mamífera, forte, sona de mim e muito decidida sobre como colocar meus filhos ao mundo!


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