sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A Maternidade e os Quilinhos a Mais

Vocês já notaram que, depois que engravidamos ou temos filho, as pessoas não perguntam da nossa saúde tanto quanto perguntam do nosso peso???
Fora os comentários que fazem sobre isso:

"Nossa, fulana era tão bonita, estragou o corpo"
"Você já perdeu os quilos que ganhou na gravidez?"
"Amamenta bastante que você vai ver, vai perder todo esse peso que ganhou"
"Fulana engordou pra caramba na gravidez né?"
"O médico falou pra engordar quantos quilos?"

Eu queria sabe por que diabos pensam que nosso corpo é domínio público!!!

O mais "engraçado" é que dizem que você deve comer por dois, mas se você faz isso e acaba engordando mais do que eles acham que deve, te criticam!
Pessoas, decidam né, coerência manda lembranças! (E quando decidirem guardem sua opinião pra si, please)

Bem, eu já tinha pensado algumas vezes no assunto, mas esses dias, no mercado, fui olhar as capas das revistas, e eis que me deparo com isso:

Angélica, 40 anos, 3 FILHOS. Tá... Com a grana que ela tem, eu poderia estar 
igual a ela, mas, será que é tão importante para mim??? Quem decide sou eu!
Tudo bem, tem gente que ia ser feliz pra sempre se emagrecesse, ou não engordasse (nem vou entrar no mérito "padrões impostos pela sociedade" nesse texto, fica para outro), mas daí a colocarem sempre como se fosse obrigação da mulher perder peso depois que tem filhos, é pegar pesado demais!!!

Poucos sabem, mas nem toda mulher tem facilidade para perder peso assim como tem para ganhar. Ganhar é fácil, tudo tem açúcar, ou gordura, ou hormônios - não que isso seja da conta de ninguém, é só para fim de informação.
Alimentos industrializados não são livres dessas coisas. Daí falam "Ah, mas é fácil, é só comer alimentos naturais". Gente??? Tem dia que mal temos tempo de tomar banho, que dirá de ficar descascando, preparando, temperando alimentos!!! Tem dias que a gente mata a fome com um pacote de bolacha, salgadinho, ou com pão! Tem mãe que tem marido pra dividir tarefas, outras tem parentes que ajudam, mas tem quem precise se virar em 10! Como elas fazem??? Largam a cria chorando pra ir cozinhar???
Eu concordo plenamente que devemos manter uma alimentação saudável, sei que nem todos os gordinhos seriam gordinhos (ou tão gordinhos), e nem toda grávida ganharia tanto peso se comessem bem. 
Mas, e quando as pessoas ficam falando do peso dos outros, será que a preocupação é com a saúde ou com a estética da pessoa? Posso afirmar que é só preocupação estética, salvo raríssimas exceções.
E quanto a grávidas que não se alimentam bem e ganham peso, o motivo é que nem todas conseguem controlar a alimentação, principalmente no primeiro e último trimestre, devido aos enjoos e azias.
Algumas enjoam pouco e até conseguem manter uma boa alimentação, mas e aquelas que enjoam de tudo, fazem o que??? Vão morrer de fome só porque não devem engordar??? Pelamor né, nessas horas a mulher deve comer o que conseguir engolir! O que não dá é pra forçar algo que não está descendo e acabar vomitando tudo...

Voltando a capa da revista, onde deixa claro que a Angélica está com um corpo super magro por ter 40 anos e 3 filhos. Entendo que é uma revista sobre emagrecimento, mas se não fosse o fato das pessoas exigirem dos outros e de si mesmas corpos magros, esse tipo de revista não existiria, ou existiria, mas focasse mais na saúde do que na magreza. 
Quando estampam na capa que ela tem 3 filhos, é como se tivessem chamando de preguiçosa a mulher que tem 3 filhos e ainda carrega uma "pancinha" pós parto. Eu me senti particularmente ofendida, e sinto a cada vez que vejo algo semelhante. Não ofendida porque a Angélica não tem barriga pós parto, mas sim porque sinto como se me apontassem o dedo e me chamassem de preguiçosa, feia, relaxada e etc etc...

Até parece que é do alcance de todas as pessoas a vida que a Angélica tem, ainda mais da brasileira, que tem uma licença maternidade de merda, por isso, muitas acabam abandonando o emprego, para conseguir amamentar decentemente, exclusivamente até 6 meses (e continuar amamentando até os 2 anos ou mais, assim como recomenda a OMS), ou porque não tem creche compatível com a jornada de trabalho. Algumas não largam seus empregos, porque não querem ou por precisarem do salário, tanto faz, o que importa é a rotina dessas mulheres, que tempo que elas tem pra ficar indo em academia? É uma minoria que consegue dar conta de tanta coisa!
Sei que os pais dessas crianças deveriam assumir responsabilidades, para que, assim, a mulher tivesse mais tempo pra si, mas vamos cair na real: Nem todas conseguem convencer o cara que cuidar do próprio filho é "coisa de homem", e as que conseguem encontrar um cara que faça sua parte, será que querem gastar seu tempo tentando se encaixar em um padrão preestabelecido de beleza? Talvez algumas queiram, mas nem por isso, deve ser imposto sobre o restante que não acha relevante.
Então, sendo a situação da mulher brasileira tão complicada e ainda sabendo que, comprovadamente, o salário delas é menor do que dos homens (fora o detalhe que o salário mínimo brasileiro é uma vergonha e os preços de tudo são altíssimos), me diga: A não ser que seja uma rica, ou uma que tenha ajuda de terceiros, quartos, quintos, como que uma mãe normal vai ficar cozinhando alimentos saudáveis, indo na academia, PAGANDO academia, e sendo "perfeita" o tempo todo? Gente, não dá!
Fora que não é anormal ser gordinha, não é feio ter barriga, nem sempre a gordura significa não ter saúde. Isso são coisas que nos fazem acreditar, para que todos sigam o mesmo padrão sempre, e que até percam a saúde (ué, e o discursinho barato sobre saúde?) para chegar no "corpo dos sonhos". O que ganham com isso??? Talvez um bando de pessoas, principalmente mulheres, alienadas, se preocupando tanto, o tempo todo, com o corpo, e deixando pra lá outros assuntos importantes (enquanto isso nos roubam na cara de pau, em todos os sentidos).

Depois de superar a capa da Angélica, me deparo com isso no Facebook:


Eu digo agora mesmo qual é a minha desculpa: Lugar de criança não é nas minhas costas, dentro de uma academia, se molhando com meu suor, se estressando por ficar presa por horas em mim (enquanto poderia estar fazendo alguma coisa de criança), ouvindo música alta, e muito menos vendo tantas pessoas que se preocupam mais com o físico "perfeito" do que com o que realmente é importante. Não é esse exemplo que quero pra filho nenhum, eu quero outro tipo de ambiente para o crescimento dos meus filhos. Crianças aprendem pelo exemplo, e a não ser que esse fosse meu ganha pão e eu não tivesse outra escolha, não quero meus filhos metidos nesses lugares tão cedo e ponto final!

Vejo dessas coisas em todos os lugares, estampados em revistas, compartilhados nas redes sociais, e isso me faz pensar o quanto falta empatia nas pessoas. Não entendem e nem querem entender se a prioridade da gestante, ou da mãe não é o peso. Não entendem que uma mulher pode gostar de ser gordinha, ou levar isso como consequência natural de ter gestado. Não entra na cabeça que ela pode realmente não estar preocupada com os quilos que ganhou! Ela pode estar usando o tempo dela sendo feliz, enquanto algumas pessoas perdem tempo em academias com o único objetivo de se encaixar em padrões. Tem quem seja feliz em academia? Tem! Assim como tem gente feliz com o corpo que tem, sendo gordinha mesmo!
Então, da próxima vez que você olhar para uma mulher que ganhou uns quilos depois de virar mãe, por favor, pense realmente na saúde dela (e dependendo do que pensar, guarde pra si), e não no físico que você acha que é o ideal!

A obrigação de uma mulher que teve um filho não é com o olhar que as pessoas tem sobre ela, nem com o que os outros acham que é certo. A obrigação dela é sempre com ela mesma, com suas escolhas, com seus filhos, ou seja lá com o que ELA quer se preocupar! As pessoas deveriam tirar as próprias expectativas de cima do corpo alheio, e cuidar de si mesmas. 
Se todos pudessem ter expectativas mais coerentes com sua realidade, e não ficar uma vida lutando para se encaixar em padrões quase impossíveis de serem alcançados, seria melhor para todos, até para eles mesmos!
E viva a diversidade!!!






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