sexta-feira, 28 de junho de 2013

Bernardo e o Mutismo Seletivo...

Um belo dia, num passado (graças a Deus) distante, o Bernardo levou um tapa do pai dele. Nesse dia, eu virei o bicho pra defender minha cria, e voei no pescoço do meu ex... 
Perdi a noção de onde estava, do que estava prestes a fazer... De TUDO! Mas acabei foi piorando a situação, pois meu filho se assustou com o tapa, e entrou em pânico quando me viu, parecendo uma leoa, tentando arrancar o couro do pai dele...
Bem, não importa o que aconteceu depois, mas no final de tudo, minha família inteira se envolveu na briga, e os vizinhos chamaram a polícia, que conversava lá fora com meu ex aquele cretino, e meu filho chorava junto da irmã e da minha avó, todos trancados em um quarto até a briga terminar...
Bernardo tinha por volta de três aninhos quando aconteceu isso. Depois eu retardada acabei me entendendo com meu ex, voltamos, depois brigamos e terminamos, depois voltamos outra vez, e assim sucessivamente, até que eu deixei de ser otária e deu logo um fim na palhaçada. Enfim, isso é uma longa história que um dia, talvez, eu conte...
Pois bem, nessa época, o Bernardo estava começando a se comunicar melhor, pois ele já falava. Eu nunca tinha percebido nada de errado, nunca tinha prestado atenção se ele conversava ou não com estranhos, e assim continuou até depois do dia em que ele apanhou do pai.
Um tempo depois, com 4 anos, Bernardo entrou na escolinha, e foi aí que tudo começou...
A professora e a diretora me perguntavam se ele falava com outras pessoas fora da escola, pois na escola ele nunca tinha falado uma palavra sequer, e eu dizia que ele falava sim, com as pessoas da família e os amiguinhos do prédio, mas ele era um pouco tímido com pessoas que não conhecia.
Acreditei que essa "timidez" logo fosse embora, e ele ia brincar com os coleguinhas da turma, e tudo ficaria normal. Bem, a timidez foi embora, ele passou a interagir com os coleguinhas da turma, participava de todas as atividades propostas, mas a voz dele ninguém nunca havia escutado...
A diretora sugeriu acompanhamento psicológico, mas eu não tinha dinheiro no momento para pagar, então, adiei um pouco isso, até ter condições.
Eu ainda não estava me importando tanto, até que a diretora passou a me ligar para ir até a escola, dias após dias, levar uma troca de roupas, pois ele estava fazendo xixi na roupa. Ele preferia ficar segurando até não aguentar mais, a ter de pedir para a professora deixa-lo ir ao banheiro..
Isso durou meses e meses, até que eu decidi que precisava fazer alguma coisa, o tempo estava frio, e ele levava uma mochila muito pesada de tanta roupa. Fora que não é saudável nem agradável segurar o xixi até a exaustão, e terminar por solta-lo na própria roupa, no sapato e ficar todo molhado. Decidi colocar fraldas para que ele pudesse continuar frequentando a escola de forma digna e confortável, pois já havia se passado tanto tempo, que eu já estava perdendo as esperanças de que ele falaria tão cedo.
Eu não queria, jamais, que ele voltasse a usar fraldas durante o dia, já que a noite ele ainda usava, porque não conseguia acordar para usar o banheiro, mas não havia jeito, ele amava a escola, e estava fora de cogitação tira-lo de lá.
Com as fraldas, parece que funcionou melhor na escola, já em casa houve um pequeno retrocesso, pois ele queria usar fraldas durante o dia e a noite, como se fosse um bebê novamente. Ele demorou a entender que só usaria fraldas na escola, e durante a noite.

Um dia, o Bernardo acordou com febre. Não o mandei para a escola e o levei ao pediatra do AMA, ao lado de casa. O pediatra tentou falar com ele, e obviamente, não obteve resposta alguma. Ele questionou se meu filho ainda fazia acompanhamento e eu falei que não, já havia parado com pouco menos de um ano, e contei pra ele que o Bernardo era assim com muita gente, inclusive na escola, que frequentava há meses. Ele me deu um encaminhamento para pediatria e me pediu para falar tudo aquilo na consulta, e pedir encaminhamento para a psicologia.
Fiquei feliz, pois consultas com psicólogos não costumam ser baratinhas, e ele teria de esperar se eu tivesse de pagar.
Assim que saiu a vaga, levei o Bernardo, e passei por uma espécie de entrevista, onde a psicóloga perguntou tudo e mais um pouco da vida de todos que conviviam com meu filho, principalmente, sobre a minha vida e a dele.
No final da consulta, ela me falou que o que ele tinha era mutismo seletivo (quem quiser saber um pouco mais dá uma clicadinha aqui) e me perguntou se ele havia passado por alguma situação de violência, algo que o marcou, que o assustou... É claro que eu me lembrei do dia do tapa, pois ele nunca havia passado por nada pior do que aquela situação, aliás, além desse dia, ele sempre teve uma vida tranquila e nunca tinha passado por nada traumático! Ele não presenciou as brigas feias que eu e o pai dele tivemos.
A psicóloga concordou que esse momento foi muito traumático para ele, devido ao relato que fiz a ela, contando sobre a reação dele, o choro assustado, e o pânico que ele ficou quando viu a polícia na nossa porta. Ela disse que isso teria sido o estopim, o motivo disso tudo ter começado. 
Depois disso, ele passa em consultas semanais, sem previsão de alta.
Hoje em dia, ele já mostrou o quanto melhorou! Consegue conversar com pessoas que não conversava. Só não entendo o porque ele fala errado de propósito com essas pessoas, parece que está aprendendo a falar só agora...

Um dia desses, um tio meu ofereceu cem reais, para que ele falasse seu nome, mas ele não conseguiu. Depois ele ofereceu cinquenta pra ele falar "tio". Pra minha surpresa, não é que ele falou???
Depois disso, ele falou com todas as pessoas que estavam lá, tudo errado, mas falou! Em outra época, isso seria inimaginável!

Nas pesquisas que fiz, e depois que assisti no Discovery Home&Health um documentário sobre mutismo seletivo, vi as dificuldades que as crianças tem na escola, na alfabetização e em muitas das atividades, porém, não fiquei com tanto medo, pois meu filho é inteligente, tanto que já está lendo muito bem para uma criança de apenas seis anos.
Ele ainda não fala com certas pessoas nem em certas situações (pode dar o dinheiro que for rsrs), mas ele já está vencendo isso, e em breve já não será um medo falar com as pessoas!

3 comentários:

  1. Minha filha de 5 anos tmbm sofre de mutismo seletivo, tudo q vc relatou ai sobre o comportamento de seu filho é igualzinho, inclusive o fato de ela falar com algumas pessoas com a voz infantilizada, tipo de bebê, e ela tem coinciência q nao esta falando "normal". ate´hj nunca falou na escola, faz terapias há 1 ano.

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    1. É barra pra eles né... Nessas horas precisamos ter muito carinho e compreensão, e não deixar as pessoas ficarem cobrando deles o que eles tem dificuldade de fazer, que é falar, por mais que possa parecer fácil para os outros não é mesmo? Boa sorte com sua pequena!!! Beijos!

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  2. Olá Susana.
    Seu filho já teve alguma evolução?
    Pergunto pq minha filha de 5 anos tem mutismo seletivo e faz terapia há dois anos. Ela está na escola há 3 anos e ainda não conversa com ninguém. Percebi uma pequena melhora, mas apenas com crianças desconhecidas.

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