sábado, 29 de junho de 2013

Como explicar a morte para uma criança?

Há exatamente uma semana, minha avó materna faleceu. 
Essa minha avó foi uma mãe pra mim, pois quando meus pais se separaram, ela nos acolheu em sua casa e nos criou, para que minha mãe pudesse trabalhar, e assim nos dar o que precisávamos.
Há um ano, ela teve problemas no coração, passou por uma cirurgia. Desde então, sua saúde vem piorando aos poucos (houve um tempo que ela melhorou, e eu tive esperança de te-la conosco por mais uns 5 anos, mas logo ela piorou outra vez). Lentamente, ela perdia suas habilidades, até que, em suas duas últimas semanas de vida, não andava ou falava mais, e nem sempre reconhecia as pessoas.
Tudo o que eu mais temia estava acontecendo: perder uma pessoa tão próxima e tão querida. Nunca havia perdido alguém tão importante na minha vida, então, não sabia como teria de lidar com isso, e muito menos, sabia como preparar meus filhos pra isso.
A minha única certeza é que ela não duraria muito tempo viva, então, tentei pensar na melhor abordagem possível do assunto para meus filhos entenderem o que estava acontecendo, e não serem pegos de surpresa com a morte da bisavó, daquela que me ajudou a cria-los e os amou incondicionalmente.
Pensei em falar sobre o processo do velório e enterro. Não queria que eles ficassem chocados com a cena, caso eles decidissem ir na despedida da bisa. Expliquei que o corpo fica gelado, e que começa a emitir gases e líquidos que cheiram mal, por isso, se usa colocar algodão nos orifícios. Também expliquei sobre o velório, onde o corpo fica exposto em um caixão,para que receba as últimas homenagens, orações, flores, e tudo mais que se faz nessa ocasião, e que depois disso o caixão seria fechado e enterrado. Claro que falei isso durante uma longa conversa e usei as palavras mais delicadas que encontrei na ocasião.
Minha filha, de 9 anos, absorveu tudo e me encheu de perguntas. Meu filho de 6, pouco entendeu...
Depois, expliquei a ela sobre a vontade da vó, que nunca quis ficar viva se dependesse de aparelhos ou de outras pessoas para suas necessidades mais básicas, como se locomover, se comunicar, ou para fazer suas necessidades fisiológicas. Fora o detalhe que os pés dela necrosaram devido a má circulação, então, se ela sobrevivesse, teriam de amputa-los. Ela ia sofrer muito, sentir muita dor, e não ia ter uma qualidade de vida para viver dignamente, como merecia. Minha filha concordou comigo, e meu filho continuou sem entender nada.
Algumas pessoas me questionaram sobre o fato de eu não ter falado sobre Deus, sobre anjinhos e todo o aspecto espiritual da morte, mas sim, eu falei, só não dei prioridade a essa parte.
Sempre ensinei minha filha, e um dia ensinarei meus outros dois filhos, que, por mais que a gente acredite nisso ou naquilo, nada é certeza. Fé é algo muito pessoal, e não deve ultrapassar o limite da crença individual e ser atirado na cara do outro como verdade absoluta!
Eu tive uma orientação religiosa, desde criança, baseada no espiritismo. Eu creio nisso, e acabei ensinando muitas dessas coisas pros meus filhos, então, minha filha também acredita, porém, eu não sei no que ela vai acreditar ou deixar de acreditar quando tiver suas próprias opiniões, quando não for mais criança.
Quero que ela entenda tudo acerca da morte de uma pessoa querida, não quero que ela, um dia, pense em Deus ou qualquer outra entidade religiosa com mágoa ou raiva, porque simplesmente levam as pessoas que ela ama pra outra dimensão.
Ela deve entender, em primeiro lugar, que o corpo envelhece e adoece, e depois, não tem mais condições de ter uma vida, então precisa morrer, para que mais humanos possam nascer sem que uns pisem nas cabeças dos outros. Esse é o processo natural!
Tem, também, um motivo que me fez decidir por essa abordagem: nem todas as amiguinhas da Sabrina acreditam em Deus. Cada família tem sua forma de ver as coisas. Eu não queria que, nesse momento tão delicado, surgisse uma possível discussão entre ela e as amiguinhas, sobre o destino de alguém que morreu.
Sou leiga no assunto de lidar com a morte, mas considero que nessa primeira experiência eu consegui meu objetivo, que era causar menor dor e impacto possível nos meus filhos. Doeu, claro, em nós todos, mas doeria muito mais se eu visse meus filhos inconsoláveis.
Sabrina, depois que eu expliquei tudo, decidiu ir se despedir da vó, eu também fui, mas o Bernardo não quis. Ela lhe deu uma florzinha, a última, pois ela sempre teve o hábito de nos trazer flores da área verde do prédio desde os 3 aninhos de idade, mais ou menos.
Ela me perguntou se a vó levaria consigo a florzinha. Respondi como um espírita responderia: "Não exatamente ela levará a flor, Sabrina, mas com certeza, onde quer que ela esteja, receberá todo o amor e carinho que você depositou na florzinha!"
E com os olhinhos cheios de lágrimas, ela sorriu, e se alegrou de saber que nossa querida véinha chata receberá seus sentimentos. Quer presente melhor do que os sentimentos de uma criança??? Tão lindo e puro quanto isso, não há quase nada nesse mundo...


Vó, saiba que sempre te amaremos e continuaremos nossa família, como aprendemos contigo. Apesar de todos os defeitos que temos, o amor sempre irá ser maior que tudo! Muito obrigada por ter sido essa pessoa que você foi!

Vó Albina e vô Antônio


Albina Violin Fernandes 
*12/07/1929
+20/06/2013

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